Dr. Kenneth Daniel Rathbun e sua esposa Missionária Clea Rathbun ( Wal Nascimento) |
Deus
me deu o privilégio de nascer em uma família cristã. Tanto minha mãe como meus
avós maternos aceitaram a Cristo bem
antes de eu chegar. Tudo começou com um certo casal de missionários
norte-americanos que deixou a família e as comodidades da terra natal para
pregar o evangelho no coração quente e úmido da Amazônia. Pastor Jaime e dona
Ana Hawkins. Meus maiores exemplos de amor e de sacrifício pela obra
missionária. Através deles, a graça de Deus alcançou a minha família. E a velha
história que nunca envelhece nem perde seu poder transformador, salvou também a
mim, aos seis anos de idade. Num certo domingo à noite, enquanto o pastor Jaime
pregava, Deus me convenceu de pecado, de justiça, e de juízo. Naquela noite eu
entendi que Cristo morreu por mim, e que eu precisava Dele para obter o perdão
dos meus pecados. Eu cri que Cristo era tudo o que eu precisava pra aquele
momento, pro resto da vida, e pra toda a eternidade.
Cresci
na Segunda Igreja Cristã Evangélica de Santarém, conhecida como a igreja do
Pastor Jaime. EBFs, Escola Dominical, e especialmente o grupo “Cadetes a Jato:
Adolescentes Para Cristo” foram as bases da minha formação cristã. Depois dos
Cadetes a Jato, só mesmo os legendários acampamentos de jovens iniciados por
Pastor Jaime e dona Ana. Eu mal podia esperar pra fazer parte de um. Aos treze anos, recebi permissão e fui.
Jovens da igreja, de fora da igreja, e de outras igrejas se aglomeravam na
entrada do ônibus que nos levaria ao Rio Moju. A longa viagem estrada barrenta
a fora era feita na sexta-feira antes do carnaval e o retorno na quarta-feira
de cinzas. E eram tantas as histórias de ônibus atolado, cobra no meio do
caminho, chuva, lama, e mais lama. Os obstáculos eram temperos da viagem. E vinham as brincadeiras, as amizades, as
alegrias e empolgações dessa aventura. Nada disso tomava o lugar da Palavra de
Deus. Nós passávamos boa parte do tempo mergulhados no ensino da Bíblia. Como
resultado, muitos jovens aceitavam a Cristo, se reconciliavam com Deus, e se
consagravam ao serviço do Mestre durante aqueles dias. No meu primeiro acampamento
o chamado para ser missionária começou a queimar no peito e eu decidi me
dedicar ao serviço do Rei. A cada ano esse compromisso se solidificava em minha
mente.
Aos
16 anos de idade, passei nos exames da UFPA (atual UFOPA). O curso de Letras e Artes me atraía. Poderia
ser útil no campo missionário, pensei. Concluí que o seminário poderia esperar
um pouquinho. Fiquei. Pouco antes de me formar, comecei a estagiar na emissora TV
Tapajós. Em pouco tempo passei a atuar como repórter e me apaixonei pela
profissão. O trabalho era uma aventura constante. Sempre algo novo para ver,
aprender, vivenciar.
Os
anos foram passando, o amor por Missões foi ficando pro canto, e eu, mais apegada
ao jornalismo e à minha rotina de vida em Santarem. Pastor Jaime e dona Ana já
haviam ido pro céu. Eu havia me tornado membro da Igreja Batista Maranata, igreja
que vi nascer com Pastor Jaime e dona Wanda Shaw, outros extraordinários exemplos
de serviço e de amor pela obra missionária.
Eu estava servindo em minha igreja local. Ajudava com o ministério de
crianças, adolescentes, música, enfim. Mas dentro de mim, havia uma brasa que
me inquietava. O chamado especial pra Missões nunca havia apagado de todo. Uma
certa noite eu finalmente falei com o Senhor sobre isso e disse que se Ele
ainda me quisesse como missionária, que Ele abrisse a porta, e eu entraria por
ela sem dar mais nenhuma desculpa.
Deus
ouviu. Uma ou duas semanas depois, a filha de Pastor Jaime e dona Ana veio a
Santarém com uma missão especial. Seus pais haviam deixado uma espécie de fundo
para ajudar jovens interessados em ir para o Seminário. Ela estava em busca de voluntários. Eu mal
podia acreditar. Deus estava
escancarando uma porta bem na minha frente, e dessa vez, eu entrei sem mais
demoras.
Em
poucos meses eu estava a caminho do Seminário Batista Regular do Sul, na área
suburbana de Curitiba. Eu, com meus vinte e sete anos de idade, pensei que
estava preparada para o frio do sul e a frieza de viver longe da mãe. Pensava.
Alguém já disse que Deus não nos leva aonde a Sua graça não nos sustenta. Em
Curitiba não foi diferente. Deus me levou, me sustentou, e me deu o que eu
precisava: amigos que logo se tornaram mais chegados que irmãos. Foram dois
anos de muito aprendizado, de muitas memórias que guardo pra sempre.
Durante
boa parte de minha adolescencia e mocidade, um assunto estava sempre em pauta
nas minhas orações. Algo pessoal, entre Deus e eu. Minha mãe, como eu descobri
tempos depois, pensava e agia diferente. Nos cultos de oração, ela pedia que os
irmãos orassem pra que Deus me desse um marido.
Não
há nada de errado com querer casar (ou querer que a filha case). O meu desejo não era ruim, mas era algo que
precisava ser apresentado no altar de Deus com as mãos abertas: “Senhor, esse é
o meu desejo. Mas não seja como eu quero e sim como Tu queres.” Eu, como outras
amigas crentes solteiras, às vezes, era tentada a duvidar não do poder, mas das
boas intenções de Deus. E muitas e muitas vezes eu tive de voltar a Romanos
12:1-2 e lembrar que a vontade DELE não é somente boa. Ela é agradável e perfeita.
Sendo solteira ou casada, mais do que tudo, eu queria estar dentro da vontade
do Pai.
E
foi com essa atitude de deixar meus desejos no altar de Deus que retornei a
Curitiba em 2008 para meu segundo ano. O
Seminário havia anunciado um módulo de mestrado em Missões. O curso era voltado
para pastores, mas alunos que tivessem interesse poderiam assistir às palestras.
Era uma oportunidade única e eu estava super empolgada. O professor não falava
português. Tradutores nos ajudavam a entender o que ele queria dizer e ensinar.
Ainda assim, as aulas eram fascinantes. E eu não queria perder sequer uma
sessão. Alguns dos pastores e colegas começaram a notar que o professor também
se mostrava, por assim dizer, destraidamente atraído.
Dr.
Kenneth Daniel Rathbun era americano, professor e missionário na Jamaica. Já
havia percorrido diversos países em viagens missionárias e amava a obra de
Deus. Em sala de aula era animado, desses de fazer o aluno se apaixonar pela
matéria. E eu que já me interessava por missões, me achei ainda mais
interessada. E qual não foi a minha surpresa ao descobrir que ele também era
solteiro!
Quando
o tempo é bom, o tempo voa. As duas semanas do curso haviam chegado ao fim. E o
professor missionário solteiro estava de saída para o aeroporto. Antes de ir,
ele me achou e me deu um presente. Tentou comunicar que era pra eu abrir no dia
do meu aniversário, quatro meses mais tarde. Eu entendi e esperei uns quatro
minutos. Só o tempo de subir as escadas e entrar no dormitório. Esse era o
começo de uma nova aventura cheia de obstáculos e surpresas. Inesquecível e
emocionante como os acampamentos de mocidade.
Primeiro
nós tínhamos que aprender a nos entender. “Have a nice day” (tenha um bom dia)
virou a frase mais romântica do planeta porque era a única coisa que eu sabia
dizer no começo. Foram meses nos comunicando por e-mail. Ele escrevia longos
tratados que me levavam a semana inteira para traduzir. Eu respondia com duas
ou três frases no meu inglês quebrado. Ken se animou a aprender português.
Comprou um programa de audio e passava o tempo livre ouvindo. Combinamos que 8 de Junho, dia do meu
aniversário, teríamos uma conversa de verdade, por telefone. Fiquei nervosa.
Passei dias decorando frases e frases. Ele também. No dia e hora marcados,
gastamos todo o ingles e portugues que tínhamos em 30 segundos de conversa,
haha.
Nossa
história tinha romance, tinha drama, mas
tinha também uma maravilhosa certeza de estar dentro da vontade de Deus. A
missionária Elizabeth Elliot, umas de minhas escritoras favoritas, havia me
ensinado a orar assim: “A Tua vontade, nada mais, nada menos, nada além.”[1] Nada se compara.
No
final de 2008, Ken veio a Santarem para conhecer minha família. Nosso primeiro
casamento aconteceu em 14 de Agosto de 2009 na Igreja Batista Maranata de
Santarém. O segundo casamento foi uma semana depois em Bay City, Michigan. Em
2011, casamos uma terceira vez, na embaixada brasileira da Jamaica, pra que
meus documentos brasileiros tivessem meu novo nome. Casados e bem casados
estamos.
Eu
lembro de ter ficado um pouco constrangida quando fiquei sabendo sobre o pedido
de oração da minha mãe. Mas quão agradecida eu sou pelas orações dela e de
tantos irmãos e irmãs que intercederam por mim a esse respeito. O mais interessante
foi ouvir, repetidas vezes, em igrejas e lugares que visitamos, pessoas que há
anos oravam pra que Deus desse uma esposa ao meu marido. Deus ouve. E a vontade
Dele é perfeita.
Tem
sido uma honra servir ao Senhor ao lado desse homem de Deus. Nossos primeiros
anos juntos foram intensamente vividos no campo missionário. Trabalhamos com a Missão
Baptist Mid-Missions na Jamaica de 2009 a 2016. Ken já morava na ilha desde
2002. Nosso foco principal era com o Seminário Faith Baptist Bible College onde
Ken atuava como deão acadêmico e professor. Eu auxiliava no preparo e ensino de
classes voltadas para o público feminino e infantil. Nós dois dividimos a
paixão pelo ensino, especialmente pelo ensino das Escrituras. Também éramos
ativos numa igreja local onde eu liderava o ministério de crianças. Em 2014,
com a chegada do nosso filho Lucas Daniel Rathbun, me dediquei e me deliciei
com a tarefa de ser mãe. Descobri cedo que nosso bebê era um atrativo para o
nosso ministério. Muitas conversas e oportunidades pra evangelismo se abriram
porque tínhamos um pedacinho de gente no colo da gente.
Não
foi difícil aprender a amar esse paraíso caribenho repleto de belezas naturais
e de comidas deliciosas. Amamos como se fosse nosso. E amamos a gente da terra como
nossa gente. Então, quando chegou o momento, foi difícil dizer adeus aos nossos
amigos e irmãos jamaicanos.
No
início de 2016, Ken e eu recebemos uma nova missão. Agora, servimos ao Senhor
em Ankeny, Iowa, onde Ken atua como vice-presidente academico de Faith Baptist
Bible College and Theological Seminary, uma universidade americana que treina e
equipa futuro pastores e missionários. Em 2017 nasceu nossa filha Jeanette
Maria Anna Vitória Isabel Rathbun (o nome foi idéia do pai dela). Ela e o irmão
são presentes maravilhosos pelos quais não nos cansamos de dar graças.
Nós
continuamos envolvidos no treinamento, no planejamento, e na execução de
viagens missionárias onde quer que Deus abra as portas. Temos duas viagens
agendadas para 2019. Uma para a Jamaica, em maio. E outra para o Peru, em junho.
Aguardamos ansiosos para ver o que Deus há de fazer em nós e através de nós.
Jamaica |
Perú |
Perú |
Missionária Wal Nascimento |
Também
procuramos ter nossa casa e coração abertos para estudantes do Seminário. Orar,
aconselhar, encorajar, discipular, oferecer um ombro e um ouvido amigo...Como
sempre as portas para Missões estão escancaradas `a nossa frente. E como já me
ensinavam “Os Cadetes a Jato,” cabe a nós estar prontos pra ouvir, ir, falar e
servir.
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